11.9.15

chega de festa desalmada!


(Imagem: Blog Kara's Party Idea)

Os blogues, o Pinterest e as revistas de decoração de festas infantis, são hoje a fonte de inspiração para uma festa infantil desalmada. Eles todos têm muitas fotos para alimentar a audiência que realimentará o sistema com mais fotos de festas. Com a internet, tendência de decoração virou doença contagiosa que gera cada vez mais comemorações com pouco foco no significado, na relação entre as pessoas.

Estou falando de quem prefere uma imagem perfeita a uma experiência. Gente que se preocupa tanto em produzir um aniversário para bombar nas redes sociais, que é capaz até de colocar (ou pagar para doceira colocar) corante azul no brigadeiro branco. Azul da onipresente decoração com tema Frozen. Mas se leite condensado é amarelo, corante azul transforma o brigadeiro numa coisa bizarra verde-água. Não que azul não seja bizarro, mas o tom esverdeado pode deixar uma comemoração mais distante da próxima capa de revista de festa.

Cadê a vida como ela é, com a imperfeição das coisas que parecem de verdade? Qual o sabor do bolo de fubá cremoso da titia? Onde está o brigadeiro que deu uma leve agarrada no fundo da panela, com aquele sabor delicioso de queimadinho? E os balões de tamanhos diferentes? Onde está o aniversariante com a roupa suja de tanto brincar? Onde estão os avós? Quem é a professora? O melhor amigo? Qual é a cantiga de roda preferida dos coleguinhas de escola? Cadê aquele pai que gosta de correr até o mercado para comprar mais gelo e refrigerante porque o cálculo foi feito errado?

O bolo caseiro agora é falso e de pasta americana, com três andares. O brigadeiro "gourmet" tem plaquinha para avisar que ele é um brigadeiro. O balão virou artigo para profissionais que chamam aquelas montagens enormes de arte. O aniversariante troca até a roupa para cantar parabéns. Os avós são menos importantes que os personagens vivos contratados a preço de ouro. A professora é só uma das 150 pessoas presentes. Os coleguinhas brincam separadamente, cada um num brinquedo diferente. Afinal, cama elástica é a nova cantiga de roda. E o pai?

Ah, o pai está lá. Naquela mesa do fundo. Bebendo. Cerveja.

17 comentários:

  1. Eu fico com a perfeita imperfeição das coisas que eu não deleguei para gente que eu nem conheço, mesmo podendo pagar muito bem pelo serviço. Festa íntima deveria ser mais comum, não acha? Obrigada por me dar esse texto no comecinho do dia.

    Beijo.

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    1. Ah, é bem isso! O pessoal não sabe nem chamar festa íntima de festa. Não escutamos sempre a expressão "só um bolinho para não passar em branco"? É de doer meu coração!

      Espero que você tenha alguém para dividir os preparativos da festa. Sozinha é mais difícil.

      Outro beijo!

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    2. Exatamente isso!! Brigo toda vez que me chamam para um bolinho! Brigo porque não temos que ter vergonha das nossas festas!
      Agora você tem que usar eufemismo porque não é besta e entra nesse mercado insano de festas. Não podemos ter festa de aniversário, casamento? Temos que ter bolinho? Mini wedding? Por que? Para que as pessoas não se frustrem ao se deparar com uma comemoração real e não um espetáculo? Não dá!

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  2. "Onde está o brigadeiro que deu uma leve agarrada no fundo da panela, com aquele sabor delicioso de queimadinho?"

    Tá aqui, ué! E tem um monte. hahaha

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    1. Dany, sua exibida. Quer meu endereço? Sabe quando tem aqueles crocantinhos que nascem do fundo da panela?

      Pronto, aguei.

      Um beijo e força na peruca!

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  3. Olá Luana ! Ótimo texto , sabe ele me levou a algumas reflexões... acho que essa nova tendência de tudo comprado pronto , impessoal e com a mesma estética , é um reflexo das relações familiares , onde os pais tem que trabalhar demais e não tem tempo , os filhos são "terceirizados ", os familiares por sua vez também não tem mais o mesmo envolvimento ...hoje as pessoas de importam mais em manter a aparência e impressionar do que em fazer algo com afeto e espontaneidade ...ontem ao pesquisar imagens no Google , com o título : festa em casa , veio apenas meia dúzia ( ou menos ) de festas em casa realmente , o resto era de festas comuns com o mesmo visual e recursos estéticos ! Por isso acho importante a divulgação que é possível sim fazer algo bacana sem gastar uma fábula e impressionar pela emoção e alegria....

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    1. Cíntia, você tem razão. Mas penso além junto contigo: vai todo mundo na onda. Até a mulherada que se dedica integralmente à família, que tem até empregada, babá e cozinheira; está partindo para a cultura do tudo pronto e sem emoção.

      Dinheiro não compra experiência de vida simples, com brilho, personalidade e naturalidade. É preciso FAZER ao invés de simplesmente PAGAR para outro fazer.

      Beijo enorme e não me esqueci das suas fotos. <3

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  4. Vivaaa!

    Fiquei tão triste outro dia quando vc se disse cansada da patrulha do politicamente correto e sem vontade de blogar! Justo vc?

    Eu sei que às vezes pegam muito no seu pé... mas também tem um monte de gente que adora ler os seus textos e acaba se encontrando nessa ilha de sensatez.

    Sobre as festinhas, vc sabe a minha opinião e sabe como faço as coisas do meu filho. Mas a gente vê tanto essas festinhas com cara de já-te-vi!

    Já perdi a conta, por exemplo, de quantas meninas já fizeram a festa do Frozen desde que o filme foi lançado. Sério. Meninas demais, sempre com o mesmo conjunto copo-prato-saquinho de lembrança comprado na mesma loja de artigos vindos da China.

    Acho que o problema nem é a repetição do tema, mas essa coisa de comprar a decoração pronta, complicar a comida que deveria ser gostosa, simples e reconhecível, não dar a cara da criança à festa. Enfim, pagar por tudo e não fazer nada, ter uma experiência passiva. Chato, não?

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    1. Justo eu, Debora! Fico feliz por todos os comentários legais que recebo, inclusive com críticas respeitosas. E mais feliz ainda por você gostar de muitos posts.

      Você é super pé no chão e não perde o charme, nem economiza na criatividade. O kit made in China nem é a pior coisa que temos. Por exemplo, a comida irreconhecível é bem pior! O personalizado inexplicável, tipo "lembranças" que são caixas de MDF forradas com tecido de seda pura, é ainda mais constrangedor.

      Ninguém precisa ser passivo assim, pagar por tudo. Não entendo essa expressão "ser convidado da própria festa". Por que tanta gente aceita esse tipo de coisa sem enxergar a aberração que é esse mote criado pela indústria de festas?

      :*

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  5. Assustei com o título, confesso, mas foi só até observar os detalhes da foto. Onde tem alma nisso? Depois li cada linha e concordei com tudo!

    Estou tentando engravidar, no entanto já tenho amigaSSSSS me passando dicas de compras em Miami. Estou com medo, viu? Como lidar?

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    1. Na minha opinião, com essa alta do dólar, nem compensa. De verdade! Exceto se você puder investir numa viagem que vá bem além das compras.

      Dizer para elas que você não faz a menor questão, não basta?

      :*

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  6. Olá Luana, "descobri" seu blog super por acaso, mas super me identifiquei com os suas análises e o modo abordado. Não sou mãe, mas sou rodeada de sobrinhos e afilhados e honestamente não suporto a idéia dos mesversários, tampouco das festas que mais parecem corações de reis e rainhas. Isso sem falar nos chás. Vejo que muita gente segue a "moda" sem ao menos se dar conta que as festas não tem alma. Nossa, super me identifiquei com seus textos. Já sou fã. Parabéns e por favor, amplie mais seus temas, pois acredito que tem muito que explorar e seu bom-senso e discernimento só tem a nos acrescentar.

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    1. Cecília, que amor de comentário!

      Não quero nem falar nesses mesversários facebookianos. Não me convidaram para nenhum ainda. Será que tem que levar presente? rsrsrsrsrs

      Sobre ampliar os temas, estou com uma imagens legais aqui de decoração de uma casa brasileira. Acho que dá um bom post porque é uma casa (des)decorada e com MUITA alma! :)

      Vou pensar bastante na sua sugestão! Muito obrigada! O blog tem mais de 500 posts, muitos deles não são sobre festas. Ultimamente tenho ficado nesse samba de uma nota só.

      Um beijo e volte sempre! :*

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  7. Oi, Luana

    Sobre sua pergunta lá no blog, nós chegamos a passear longe de Manhattan, mas para a questão de hospedagem eu cheguei a pesquisar até o Brooklyn. Mais que isso seria complicado pela distância e pela falta de linhas de metrô. Nós ficamos hospedados em um local bom, com tudo muito acessível, o que valia muito a pena para nós.

    Em uma próxima viagem (sei lá quando, snif, snif) nós consideramos visitar NY e viajar um pouco mais para outros pontos. Quero visitar os Hamptons e, se der, passar uns dias em Martha's Vineyard. Vamos ver...

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  8. Se eu fosse criança e se tudo em minha festa fosse azul, eu choraria... aahahaha
    Minha mãe sempre gostou de festas. Dedicava-se de corpo e alma nisso, inclusive quando pedi-lhe para fazer uma festa de 18 anos. Decoramos nós mesmas o salão alugado com estrelas recortadas no isopor, pintadas com tinta neon spray em roxo, verde e laranja. E isso numa época em que já se viam tetos rebaixados com tanto tecido que te sufoca. E ficou legal! Muitos dos convidados elogiaram, e não custou quase nada.

    Uma festa não precisa necessariamente ser "íntima" para conter personalidade. Nos meus 18 anos, em especial, apesar de ter contratado um buffet, fiz questão de ir "contra a maré" da época, e pedi para servir apenas coisas das quais eu realmente gostava. A dona do buffet quase teve um treco quando pedi-lhe para providenciar as toalhas em 3 cores - roxo, verde e laranja -, assim como a gráfica que imprimiu os convites não acreditou que eu não quisesse um convite do tipo caixa, com plumas, espelhos, paetês e sabe-se o que mais que estava "na moda". Teve crepe, hamburguer, cachorro quente e batata frita. Teve pirulito de coração e bolo de verdade cheio de chocolate e nenhuma pasta americana. Teve sentimento e, principalmente, teve curtição: festei como se não houvesse amanhã, e fui dormir às 11:30 do dia seguinte. E já tinha o Orkut e a ostentação, mas nenhum destes deram as caras por lá.

    Cheguei a este blog quando me casei. Não quis casamento religioso nem festa hollywodiana. Tive um jantar apenas para os familiares mais próximos, mas, para não deixar minhas amigas "sem nada", fiz um evento anterior em casa. Não chamei-o nem de "chá" nem de "despedida de solteiro", mas organizei e fiz toda a decoração sozinha, pois não queria nada em que não houvesse um toque pessoal naquilo. Não gosto das brincadeiras de chás de cozinha, então eu mesma determinei a brincadeira que seria feita: um concurso de vestidos de noiva feitos com papel higiênico. Todo mundo colocou a mão na massa, e, aparentemente, todo mundo se divertiu. E teve brigadeiro e docinho de leite ninho feitos por uma prima, salgadinhos comprados na padaria e "pastinhas" mexicanas, que uma amiga e eu fizemos. Teve bandeirinhas feitas com papel seda e toalhas de chitão, tudo muito colorido. Flores? Teve sim: de papel crepom. Brega ou não, o negócio é o seguinte: fiz acontecer e foi bem legal!

    Não concordo com pais que se endividam eternamente para fazer uma festa nababesca para o filho de 1 ano que não sabem nem o que está acontecendo. Não concordo com chás de cozinha / bebê, em que a futura esposa / mamãe fica tão preocupada em ficar bem na foto que tem até câibra por conta do sorriso falso. Não concordo nem com as festas de 15 anos em que a aniversariante põe todo aquele aparato de princesa e, depois, fica se lamentando por não conseguir "descer até o chão" - e isso vale para as noivas também. Se a pessoa tem um sonho, pois bem: realize-o! Mas, peloamordeDeus, curta aquele momento! Do 1º aos 200 anos, festeje, permita-se, e, se você é o organizador, permita aos outros permitirem-se!

    Aff! Fiquei de bode, agora! ahahha O mundo está chato pra caramba, a um ponto que você se torna o chato quando simplesmente se recusa a seguir a cartilha, na tentativa de fazer seus convidados se sentirem mais a vontade... É mole?

    Beijos!

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  9. Você arrasa até quando escreve pouco Lu. Escreve pouco e fala tudooooo!
    Só posso crer que é inspiração Divina, mesmo. Eu creio.
    Olha... O que mais me impactou foram os "cadês". Sabe que o bom senso de humanidade virou folclore. Eu fico tão triste que além de invadir os lares, invadiu os espaços escolares... Tudo caminha para o individual numa ilusão marxista de coletivo (discurso falacioso, leitores de rodapé...). Que pena! Que saudade daquelas festas familiares despretensiosas! Deu até água na boca quando você citou o brigadeiro verdadeiro, com queimadinho no fundo kkkk Uma vez pastor Glênio fez uma metáfora com o mel, quando propagado "olha freguês, esse é mel PURO". O pastor pensou... Ué, por que o acréscimo do "puro", ou é mel ou não é. O brigadeiro agora precisa ser especificado. Olha senhor, é puro, sem adição de corantes, frescurites, licor, wasabi, hibisco, pimenta, rivotril... bjs

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  10. Estava comentando isso em casa esses dias. Conheço pessoas que não se sentem à vontade de comemorar o aniversário de um filho porque não dispõem de 20.000 reais! Absurdo!! Fico feliz em ver seu relato e tantos comentários porque vejo que não estou só.

    Não entendo essas festas em que as crianças não interagem, assistem espetáculo contratados. Sem contar naquelas casas de festas, muito comuns aqui em Brasília, com pacotes de festa montadas e cheias de vídeo-games e fliperamas. E quantas festas fui que não tinha brigadeiro? Mas tinha creme bruleé (é assim?), trufas e mousses.

    Esses dias estava revendo fotos da minha infância. Engraçado como em nenhuma festa de aniversário tinha foto posada. Os pais não conseguiam e não insistiam em nos deixar quietos. Em todas as fotos estamos brincando, enfiando algodão doce na boca do primo, todos sujos e melecados. Para alguns, nenhuma foto que "preste", comigo desce lágrimas ao relembrar momentos com tanta vivacidade momentos realmente registrados naquelas fotos. Relembrar nossas brincadeiras, relembrar a dedicação de dias com tias e primos mais velhos enrolando brigadeiro e fazendo simpatia pra que não chovesse e as formigas não comessem os doces, relembrar o Vizinho que gostaria de reencontrar, relembrar os avós e primos que não podem mais comemorar conosco.
    Onde foi parar o valor de tudo isso?

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