29.11.08

Fashionista X Recessionista X Depressionista

Pra quem valoriza o suado dinheiro, ser "recessionista" não é novidade. Quem é que não gosta de uma boa roupa por um preço dygno? Agora é a recessão que dita a moda: Renner, C&A, Riachuelo, Pernambucanas, Marisa, Americanas, Wal-Mart, Havan, Hering, out-lets em geral; estão em alta! Sempre fui recessionista mas nunca precisei desse rótulo pra justificar a opção por não comprar com freqüência as modas brasileiras premium que enchem nossos olhos mas esvaziam rapidamente os bolsos.

Os americanos inventaram um apelidinho para justificar o consumo de roupas numa Economia em crise. Os fashionistas, agora conhecidos como recessionistas, não podem mais comprar roupas caríssimas (exceto com descontos exagerados) e supostamente encontram satisfação nas comprinhas mais pesquisadas ou modestas. Como disse o presidente Molusco, "esta é a hora de as pessoas aprenderem a fazer bons negócios, a comprar o carro mais barato, comprar uma TV mais barata". No caso americano, é moda mais barata. Porém, já posso ver a nova onda: decoração recessionista.

Traduzi bem marromeno a reportagem do The New York Times sobre o tema. Se preferir, leia o original em Inglês. As minhas observações estão entre parênteses:


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Um Rótulo para a Economia Corino

Por Natasha Singer

Publicado em 24 de Outubro de 2008

Em um clima econômico em que a compra de uma bolsa que custa quatro ou cinco dígitos significa começar com o pé esquerdo, os que consumiam muito e eram conhecidos como "da moda" (fashionista) estão se renomeando.

Considere 1.235 dólares por uma bolsa de couro com ferragem dourada desenhada por Anya Hindmarch.

Mary Hall, uma gerente de marketing da IBM em Redondo Beach, na Califórnia, verificou o seu apelo sedutor. Então ela foi para a Target (loja de departamento americana que é melhor que a Pernambucanas, mas PEOR que a Sears) para comprar uma bolsa de igual material brilhante, feita de policloreto de vinil, pela mesma designer. Preço: 49,99 dólares.


Na economia atual, eu pensei que reformaria uma bolsa", disse a Sra. Hall.

Bem-vindos à "recessão chic" e sua personificação, o "recessionista", o novo nome para o estilo especializado em orçamento. A nova palavra representa os tempos que explicaram a razão pela qual o novo guarda-roupa de Sarah Palins (75.000 dólares na Neiman Marcus e cerca de 50.000 dólares na Saks – lojas de departamento caríssimas nos Estados Unidos) surpreendeu alguns de forma desagradável.

Sobre a Senhora Hall, quem quiser poderá ler sua primeira fase em jornais e em sites da Web como Jezebel.com. Recentemente ela iniciou um blog de relatos sobre suas escolhas baratas e chiques: therecessionista.blogspot.com.

Em parte, a palavra reflete os esforços dos publicitários da moda e beleza para transformarem a desaceleração econômica em algo atrativo. Por exemplo, a Bourjois, uma marca francesa de maquiagem com preços moderados, enviou recentemente um comunicado promocional por e-mail à imprensa, sobre rímel e batons mais baratos na "The Recessionista Collection", um antídoto para a melancolia. Uma mensagem de e-mail enviada na semana passada em nome do salão de beleza Eliut, em Manhattan, promovia a "Beleza Recessionista", oferecendo desconto na modelagem de sobrancelha.

O uso da palavra recessionista é para "iluminar uma situação que não é tão favorável para os dirigentes de consumo das indústrias da nossa nação, transformando-os... e entregam uma mensagem às massas”, escreveu Heather Viggiani no blog de uma empresa de relações públicas em que ela trabalha em tempo parcial, www.piercemattiepublicrelations.com.

Viggiani, que é também uma cientista de publicidade e marketing no Fashion Institute of Technology, em Manhattan, passou a descrever uma "recessão chique" para o varejo. "Uma série de marcas mais baratas, graciosamente ajoelham-se aos pés da recessão e dão posição aos seus produtos e serviços, não só como uma escolha inteligente, mas luxuosa".

Grant Barrett, um lexicógrafo que é especializado em novas palavras e gírias, disse que a palavra está sendo usada como desculpa para que os americanos comprem mais coisas.

É um tipo de permissão para que os consumidores justifiquem seus hábitos de consumo", disse ele. Barrett incluiu no início desse mês em seu web site, DoubleTongued.org, o termo "recessionista" como um movimento esperançoso. "A idéia é, porque eles gastam menos e ainda ganham dinheiro, até está bom para se fazer compras ", disse ele numa recente entrevista telefônica. "É uma mensagem para servir a si próprio".

Recessão chique" é mais um termo na longa lista criada pelos escritores de moda que têm uma afinidade com o sufixo "chic": hippie chic, Seventies chic, tribal chic, military chic, geek chic, Camilla chic, desintoxicação chic, eco chic.

Em fevereiro, a manchete "Recessão Chique", num artigo do The Times de Londres por Lisa Armstrong, no jornal crítico da moda, registrou uma rentabilidade adequada para tailleurs para mulheres de negócio. Em abril, a mesma manchete foi escrita por Betts Kate na revista "Time", onde descrevia as novas coleções sóbrias de estilistas de moda.

Chegando o outono, a moda vai seguir a espiral descendente dos valores imobiliários e das carteiras de investimento, com os designers abraçando as paletas escuras e uma silhueta simples," escreveu Betts.

No entanto, para a recessão chique se tornar uma tendência, o estigma associado ao desregramento de compras de vestuário em uma economia incerta, teria que ser jogado para baixo.

Style.com, o site da revista Vogue, declarou o passe livre aos gastos dos Fashionistas como as protagonistas do "Sex and the City". Em seu lugar, o site elaborou um novo ícone para a nova austeridade, uma destemida heroína capaz de consumir uma determinada marca até mesmo num momento em que a casa dela poderá ser liquidada. (INSANOOOO! Em um episódio, a protagonista Carrie se deu conta de que poderia dar entrada em um apartamento em Manhattan com o que gastava em sapatos. Os amados Manolo Blahnik”.)

Neste verão, Derek Blasberg escreveu no style.com: "Você deve saber que, enquanto a própria Fashionista pode ter se guardado no cofre juntamente com as próprias tiaras, sua super irmã mais nova, a Recessionista - freqüenta lojas que tem grifes famosas com desconto – as lojas de departamento de bom preço. Ela é vista na Target, Uniqlo, Payless ou Kohl's, os quais têm recentemente coleções de designers. Isso porque os recessionistas não estão deixando algo como a queda dos preços das ações e o aumento da gasolina acharem o caminho do seu guarda-roupa."

A nomenclatura pode ser nova. A idéia de mover o merchandise conforme o clima não o é.

A Sears, no catálogo de 1930, no início da Grande Depressão, ofereceu "casacos de nova modalidade dentro do espírito da economia inteligente” com preços de venda de 9,75 dólares a 25 dólares. Frases como "ser inteligente e racional" e "olhar para a economia chique" promoveram vestidos que custavam de 4,98 dólares a 8,98 dólares.

Na esteira da quebra do mercado acionário em 1987, designers começaram a oferecer segundas-linhas menos dispendiosas. Em 1989, por exemplo, Donna Karan introduziu a DKNY.

Certamente a palavra "recessionista" tem as suas raízes nas dificuldades econômicas. Executivos de Finanças pela primeira vez utilizam o termo para conotar uma pessoa que prognostica a recessão ou uma pessoa que acredita que a recessão beneficiará a saúde da Economia em longo prazo, segundo os lexicógrafos.

Mas, ao longo dos últimos seis meses, publicitários, varejistas e até mesmo alguns consumidores deram um novo significado à palavra que rima com Fashionista.

Tratam-se de palavras de sons parecidos", disse Paul McFedries, o proprietário de um dicionário on-line chamado de wordspy.com, que acrescentou a palavra recessionista para o seu léxico em julho. Embora isso possa parecer fútil fazer uso de uma palavra pesada como "recessão" para formar um lúdico neologismo que abraça as compras, as pessoas estão a usá-la porque é divertido de se pronunciar, disse ele. "Se você é um formalista da gramática, vai perder muito da alegria da língua."

Mary Hall, do blog therecessionista.blogspot.com, disse tanto a palavra a seus amigos que eles a apelidaram de Recessionista. "Satisfaz mais dizer: "Eu sou Recessionista, e eu realmente não quero ir para isso, em vez de dizer "Eu não posso suportar isso ou eu não quero gastar o dinheiro", disse Mary. "O 'ista' no fim da palavra, dá um pequeno toque de bling (é um termo americano que se refere ao luxo dourado dos anéis de brilhantes e roupas de grife típicas dos rappers), penso eu."


Na verdade, "recessionista" carrega um tom otimista que recorda por neologismo a crise de crédito: "staycation", um eufemismo passar as férias em casa. Similar terminologia - "frugal chique, guarda-roupa à prova de recessão (“recession-proof dressing”), indo até "gastos rápidos" – e mais conotações negativas que não tenham entrado em confronto com os consumidores ou o mundo fashion.

McFedries disse que a palavra é um termo mais animador do que frases como "notável austeridade" ou "discreto consumo".

Publicitários "querem partir pra cima com uma palavra ou frase que torna as coisas não tão más como são," disse o Sr. McFedries.

Ele acrescentou: "Você tem que colocar um spin positivo nisso, porque você tem que levar as pessoas a gastar dinheiro quando não quiserem uma compra por opção.

Mas recessionista poderá não ser a última encarnação de um estilo miserável no faro de designers que dão descontos.

No caso da economia piorar, abrir-se-á caminho para a depressionista (Deus nos livre!!!).

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