2.4.16

Porcelanato é mesmo bonito?

Quem nunca visitou um stand de vendas com apartamentos decorados? Acredito que a maior parte dos leitores já viveu essa experiência, principalmente os que habitam nas grandes cidades brasileiras. Qual foi a sensação que você sentiu? Sentiu-se confortável, ambientado? Ou parecia ter adentrado o incrível mundo dos decoradores alienados?

Ainda que seja automático expressar um "uau, que bonito!", você consegue se imaginar morando por muito tempo numa caixa coberta de papel de parede, espelhos e placas de MDF revestidas com laminado plástico que imita madeira?

Uma amiga, criada numa casa semelhante a essa abaixo, relatou que não está se sentindo bem no seu novíssimo miniapartamento milimetricamente decorado, idêntico aos que vemos nessas exposições das construtoras brasileiras.

Pudera. Sem móveis de família. Sem lembranças de viagens. A mesa com aquela marca de copo foi renegada porque tem que ser tudo sob medida. Ela aboliu até as plantas de verdade.

Não bastassem as crises econômica, política e moral, o brasileiro também sofre com a crise de identidade. 

Eu não gosto de ser levada pelos ventos da pasteurização porque não me sinto bem dentro de um centro cirúrgico esterilizado. Sempre me pergunto: por que uma pessoa abandona a própria história para viver a caríssima artificialidade extrema?

É injusto comparar um apartamento pequeno com a casa abaixo? Claro que não. Acho bom refletirmos sobre o abandono da alma brasileira.

Porcelanato chinês no lugar dessa ardósia - linda, barata e natural - seria apenas um revestimento artificial sem coração.

Imóvel localizado na praia do Campeche (SC), disponível para aluguel de temporada no site HomeAway




7 comentários:

  1. Luana, estou emocionada com esse texto, com as fotos, com a sua sensibilidade. Acabei de escolher para compra um apartamento espaçoso, bem iluminado. Ele é novinho e eu detestei o revestimento padrão que a construtora colocou! Tem porcelanato nas paredes, no piso, laminado plástico no chão dos quartos... Enfim, quero lhe agradecer porque o seu texto me encheu de coragem. Sei que não é ecologicamente correto meter a marreta em tudo (está em perfeito estado, sem uso), no entanto buscarei um outro imóvel que esteja necessitando de reformas, de preferência uma casa numa rua sem saída. Ou ao menos um apartamento que tenha uma floreira na janela e tacos no chão. Sou do interior, moro aqui em São Paulo, mas não preciso me desligar de quem eu sou para me adequar às atuais ofertas do mercado imobiliário. Trabalho tanto, puxa... Não posso perder a oportunidade ter um lugar que lembre a casa da minha avó.
    Obrigada!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Lucianna, me sinto feliz porque você citou a casa da sua avó. É exatamente isso: casas não são estabelecimentos comerciais, ou seja, não faz o menor sentido que sejam frias e iguais às da revista.

      Muito obrigada por comentar!

      Um beijo!

      Excluir
  2. Luana,

    Obrigada por expressar de modo tão competente o que eu venho falando há anos!!!
    Como profissional da área, vejo que a maioria das pessoas têm esses apartamentos decorados como referência do que querem para a própria casa. Aliás, é super comum que as fotos dos apartamentos decorados ilustrem vários blogs, como se fossem a coisa mais fantástica do mundo.
    Muitas vezes as pessoas chegam até mim pedindo esse padrão - além do piso bege, parede bege, papel de parede bege, sofá bege e por aí vai. Desconfio que seja por falta de outras referências que elas optem por essa escolha "segura". Mas eu tenho o costume de entrevistar o cliente e dessa conversa saem pro

    ResponderExcluir
  3. ... saem projetos super diferentes, que geralmente são aprovados sem nenhuma alteração. Ou seja, atingem o que a pessoa gosta, mas são coisas que ela não soube pedir.

    Às vezes vejo esses ambientes frios, cheios de porcelanato e espelhos, e me sinto muito mal neles. Não acredito que alguém possa se sentir verdadeiramente confortável e relaxado em lugares assim.

    Os blogs estão cheios deles e acho uma pena. Ou do extremo oposto, cheio de DIY com cololher de plástico e reaproveitamento de caixa de pizza. Não me entenda mal: adoro um DIY, mas gosto de material de verdade, de servico bem feito. De coisas duráveis, não descartáveis. E esses dois opostos, que parecem tão diferentes mas na verdade têm muito em comum, me incomodam de uma maneira incrível. Tudo feito pra ver de longe, mas não durar muito; pra não ter alma; pra substituir as coisas que realmente têm valor.

    Obrigada pelo seu excelente texto, como sempre!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. De nada, Debora! Eu é que tenho que lhe agradecer pela fiel audiência e amizade! :)

      É uma pena que o mercado da construção civil, desprovido de valores morais, acabe tendo essa força tão grande na nossa nação. Eu não me refiro somente à força de vendas! Digo sobre a especial habilidade de enterrar o passado das pessoas para provocar nelas uma necessidade de consumo 1000% despersonalizado. Eu, que estudei Marketing nos bancos da universidade, sei que qualquer empresário tem essa capacidade, basta usar a técnica correta. É triste!

      O DIY com caixa de pizza também me incomoda. Por exemplo, na casa acima você consegue localizar algumas coisas que parecem cheias de história, únicas, artesanais, mas muito bem feitas e duráveis. Também vejo os dois opostos (DIY tosco e "alta" decoração) com coisas em comum: tudo passageiro e sem alma para substituir o que as pessoas são de fato.

      A proprietária da casa acima é arquiteta e mora em Londres. Eu não preciso ler o site para saber que foi uma profissional especial que desenhou a paginação absolutamente perfeita da ardósia, que escolheu um gancho discreto para a toalha (imagine o que teríamos no apartamento decorado!), que usa até a válvula simples numa cor que não interfere na decoração do banheiro... A casa inteira é muitíssimo bem planejada e decorada.

      São muitos os detalhes que separam o bom do mau profissional. Você está de parabéns por conseguir proporcionar aos seus clientes o autoconhecimento. Isso é mais raro que ouro fino! Seu valor vai muito além do que o mercado diz que você vale. Graças a Deus!

      Sou totalmente a favor que a pessoa busque um bom profissional para construir/decorar a casa, principalmente no Brasil! Aqui a coisa é mais séria porque estamos o tempo todo sendo bombardeados por um padrão que é extremamente deprimente e artificial, repetido até mesmo nos blogues! Que pena!

      Um beijo, Debora!

      Excluir
  4. Ai, como esse blog é um alento pra mim... Depois das babás de branco, das festinhas milionárias "de verdade" em buffet, agora chegou a vez de falar da decoração exatamente igual de todos os apartamentos. Sério, não consigo nem mais achar bonito ou feio, acho simplesmente igual, sem graça, sem vida. Até a disposição do móveis é a mesma, minha gente. Morro de rir....
    Só falta agora falar da cor e do corte de cabelo das brasileiras. Já repararam que todas tem exatamente o mesmo tom de luzes e o cabelo tem o mesmo tamanho e a mesma escova ??? hahaha ...morro de rir mais uma vez!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Gabis, eu defendo a liberdade até para ter uma casa sem graça, sem vida e sem personalidade, kkkkk... O que pega é que dificilmente uma decoração desse tipo fará alguém se sentir num lar. É preciso refletir sobre isso.

      Sobre a questão do cabelo, confesso que ainda não prestei atenção. Talvez porque não seja algo tão onipresente quanto o que abordei no texto, não?

      Se você voltar aqui, por favor, comente novamente com o link de alguém com esse tal cabelo. A moda aqui no interior é o tal long bob. É esse?

      Um beijo e obrigada pela audiência! :*

      Excluir